A demanda de trabalho está cada vez maior. Mais pressão, mais carga horária, mais stress e, com isso, mais pessoas tendo uma má postura no trabalho.
Se não bastasse isso, a pandemia veio com tudo, adaptando formas de mantermos o emprego, remotamente. Com isso, alterações de posição e estrutura foram necessárias para serem adaptadas.
Você já reparou em como as mudanças de postura no trabalho podem influenciar suas queixas atuais de dor?
A pandemia e a relação com a má postura durante o trabalho
Cito aqui alguns fatores relacionados ao tempo de Covid-19 que vivemos.
Sequelas da doença: como fisioterapeuta acompanhei diversos pacientes retornando aos atendimentos com novas dores, claramente advindas no período de Covid ou de internação, em alguns casos. Alunos com dores torácicas e lombares, queixas cervicais e muita, mas muita tensão muscular foram as principais.
Outras foram encaminhadas para outros profissionais, como um caso de perda de voz – a fonoaudióloga foi acionada e trabalhamos em conjunto na melhora desse paciente. Por isso, cabe ao fisioterapeuta identificar e entender a importância em casos como esse, que a multidisciplinaridade é fundamental.
Saúde mental: sim, muitos pacientes tiveram perdas pessoais e algumas das sequelas citadas acima podem ter sido permanentes, com cuidados necessários para toda a vida. Voltamos a falar aqui sobre a necessidade da ação conjunta do fisioterapeuta e de um psicólogo: sempre é necessário ter uma indicação de alguém que você confie, pois apenas assim os resultados serão positivos e mais produtivos.
Readaptação ao espaço: pensando aqui em um funcionário que tinha uma jornada diária de 8 horas em um local onde permanecia sentado com uma postura no trabalho o tempo todo em frente a um computador. Quais as adaptações necessárias para que esse trabalhador possa cumprir sua função? Num mundo ideal seria:
- Uma cadeira confortável, com apoio lombar e para descanso de braços, com altura em que os membros inferiores fiquem apoiados nos chão em um ângulo de 90 graus;
- Um notebook que fique na altura dos olhos, sem a necessidade de flexão cervical, com apoio para os braços em que o punho fique na posição neutra. Se for um computador (mais incomum, mas percebi que ainda acontece), adaptações dessa forma também são necessárias;
- Permanência dos cuidados: observei um relaxamento quanto à atenção quanto à postura, por conta da mudança de rotina. Alguns pacientes relatam que não tem a estrutura citada acima e por isso acabam fazendo sua jornada de trabalho na mesa da cozinha, com uma cadeira qualquer ou até mesmo no sofá. Essa postura no trabalho gera uma descompensação no alinhamento corporal e causa dores. Assim como, a permanência da sedestação sem controle, sem respeitar os limites de horários ou intervalos.
Sim, mesmo tendo passado a pandemia, as empresas ainda mantém funcionários em home office e as deficiências de estruturas proporcionadas a eles estão gerando as sequelas observadas hoje.
Podemos citar, principalmente, maior nível de stress, aumento dos pontos tensionais, diminuição de força muscular (principalmente a estabilizadora), redução de mobilidade, encurtamento muscular, piora da postura e naqueles casos em que a função exige a permanência da posição sentada, a piora do equilíbrio.
E atualmente, quais as lesões mais comuns relacionadas à má postura no trabalho?
Dorsalgia: O levantamento e carregamento de peso, movimentos repetitivos e uso da força estão entre as principais causas das hérnias de disco e dos problemas de coluna em geral. Também estão no quadro de doenças com maior incidência.
A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) não é uma doença específica. O termo envolve uma série de patologias ocasionadas por movimentos que levam ao desgaste, a lesionar ou causar danos ao sistema musculoesquelético.
As doenças mais frequentes causadas por LER atingem os membros superiores – são elas: a tendinite, sinovite e a tenossinovite. Aqui vou especificar também as lesões que mais observo na prática clínica.
Aos trabalhadores que permanecem muito tempo em pé:
- Contraturas musculares principalmente na região torácica;
- Dores nos pés podendo evoluir para esporão de calcâneo ou fascite plantar;
- Fadiga rápida.
Trabalhadores sentados:
- As LERs já citadas;
- Dores articulares;
- Edema por falta de circulação sanguínea e oxigenação;
- Tensão muscular ou contraturas principalmente na região de trapézio e ombros – cefaleia recorrente.
Como o Fisioterapeuta pode auxiliar?
Algumas orientações novas são necessárias, mas outras são apenas necessitadas de reforço.
- A cada duas horas levantar e caminhar ao menos ao redor da mesa, trazendo um pouco de mobilidade às articulações;
- Manter a hidratação com água – pelo menos três litros por dia;
- Observar a ergonomia do seu espaço de trabalho – se não estiver adequado, solicitar as melhorias. Hoje existem fisioterapeutas especializados que irão elaborar laudos baseados em evidências científicas do porquê que a cadeira deve ser aquela, do porquê a altura do computador tem que ser aquela determinada, por exemplo.
- Praticar uma atividade física: costumo dizer que a rotina não vai mudar, então o paciente precisa preparar seu corpo com um reforço muscular para suportar a carga de trabalho proposta. Lesões também irão surgir neste caminho, e seu paciente precisa saber que isso pode ocorrer e tudo será tratável;
- Orientar quanto a exercícios que possam ser executados em casa e de forma segura, principalmente os de alongamento, pensando em um relaxamento muscular após horas mantendo a mesma postura no trabalho.
Qual a melhor atividade física para indicar?
Não existe como indicar a melhor, mas sim a mais adequada a aquele determinado paciente. É preciso pensar no seu objetivo e também conhecer as propostas de cada atividade.
Hoje, costumo trabalhar com o Pilates pois vejo como um Método completo: trabalhamos o fortalecimento muscular como uma forma de preparo do corpo, mas também o alongamento e mobilidade, trazendo a sensação de relaxamento das tensões ao aluno.
Além disso, pode ser visto como um Método tanto reabilitativo quanto preventivo; não é prejudicial às articulações pois não tem impacto e por isso não existe um limitador de idade.
Existem dentro dos exercícios diversas adaptações que trazem dois benefícios: possibilidade de evolução, seja com carga ou com dificuldade mesmo, e também a não criar uma rotina – sempre os mesmos exercícios e você acabar perdendo a aderência do paciente ao seu tratamento.
Conclusão
Visto todas as lesões, cuidados e indicações podemos pensar que cada vez mais a atenção é necessária aos cuidados no ambiente de trabalho – e fora dele. E que você como fisioterapeuta pode sim estar auxiliando esse paciente, e sendo mais um nicho a ser trabalhado!