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Fala estudantes e professores de Educação Física, tudo bem? Estou aqui de novo para avançarmos ainda mais no tema sobre periodização do treinamento (PT). Só para lembrarmos, no último texto foi falado sobre os motivos de entender o por quê de montar um planejamento de treinamento a longo prazo, devido ao controle do efeito de supercompensação.

Ainda, falamos sobre a história da periodização do treinamento, seus tipos (linear, linear-reversa e ondulatória) e também os componentes que formam as estruturas de uma periodização (sessão de treinamento, microciclo, mesociclo e macrociclo). Entretanto, como vamos controlar as cargas de treinamento ao longo das sessões de treinamento?

E esse é o assunto de hoje… Vamos lá?

Paradigma inicial da periodização do treinamento

Antes de começar a falar sobre gostaria de destacar um conceito muito importante quando queremos falar sobre a evolução de algum tema ao longo do tempo. E, para isso, preciso citar um conceito interessante sobre ciência que é o PARADIGMA, afinal, Educação Física é ciência.

Segundo Thomas Kuhn a ciência é um tipo de atividade altamente determinada que consiste em resolver problemas (como um quebra-cabeça dentro de uma unidade metodológica chamada de paradigma.

O paradigma caracteriza a ciência normal. Esta se estabelece após um tipo de atividade desorganizada que tenta fundamentar ou explicar os fenômenos ainda em um estágio que Kuhn chama de irracional, ou seja, pré-ciência. A ciência normal também ocorre quando há uma substituição de paradigmas, quando dentro de um modelo ocorrem anomalias que colocam em dúvida a validade de determinado paradigma.

E, com base nesses preceitos que a Educação Física começou a se desenvolver como ciência dando origem as Ciências do Esporte que segundo Bishop (2008) pode ser vista como o processo científico usado para guiar a prática esportiva e, em última análise, melhorar o desempenho esportivo.

Conceituando carga de treinamento

Inicialmente o paradigma da periodização do treinamento era feito de maneira intuitiva em que a experiência técnica dos treinadores era fundamental para que atletas atingissem seus melhores resultados (Roschel, Tricoli e Ugrinowistch, 2008).

O treinamento físico é um processo organizado e sistemático de melhora das capacidades físicas em seus aspectos morfológicos e funcionais (Roschel, Tricoli e Ugrinowistch, 2008).

A periodização do treinamento surge como um importante papel para controlar todas as variáveis envolvidas no treinamento. O controle dessas variáveis permite controlar e monitorar a carga imposta pelo treinamento.

Basicamente, o treinamento gera uma relação de “dose e resposta” (Lambert e Borresen, 2010), assim a melhora do desempenho ou a alteração de algum parâmetro fisiológico (VO2, por exemplo), decorrente de uma determinada dose de treinamento, a qual é definida como o estresse fisiológico imposto ao corpo para uma determinada carga de treinamento é o que chamamos de carga interna de treinamento (CIT).

Impellizzeri et al. (2005) ainda sugerem que este modelo de adaptações da CIT ocorrem principalmente pelo treino prescrito, o que está relacionado a qualidade, quantidade da periodização do treinamento.
Mas, eis a pergunta como conseguimos controlar essa relação de: CIT X carga externa de treinamento (CET)?

Com o passar do tempo, os cientistas esportivos passaram a estudar como poderíamos potencializar os resultados dos atletas por meio de análise e interpretação do desempenho do treinamento ao longo do ano e análise da literatura existente até então que era muito pouca. Nisso, chegamos ao CET, que representa o parâmetro  de variáveis externas ligadas a forma de treinamento como:

  • Número de repetições;
  • Sobrecarga utilizada;
  • Quilômetros percorridos;
  • Número de tiros realizados.

E relacionado ao trabalho total:

  • Força produzida;
  • Distância percorrida.

Apesar disso, estas variáveis não representam as adaptações fisiológicas e mecânicas decorrentes da carga de treinamento. Em decorrência tornou-se necessário quantificar a carga de treinamento, sobretudo, em parâmetros fisiológicos.

Inicialmente, a investigação de variáveis fisiológicas se deu por meio de variáveis padrão-ouro como:

VO2

É de extrema utilidade estar relacionado a melhora de desempenho em diversos esportes principalmente de atividade cíclica. Contudo, sua aplicação prática é extremamente difícil devido a falta de praticidade sendo limitada ao uso laboratorial. E ainda, não é adequado para atividades intermitentes.

Lactato

Extremamente utilizado para controlar e analisar a intensidade do treinamento, é viável para atividades intermitentes. Apesar disso, é influenciado por diversos fatores como dieta, tipo de exercício e nível de stress do indivíduo.

Então, apesar de sua validade inquestionável a prática em campo é extremamente difícil devido a diferentes condições. E por isso, cientistas começaram a pensar em métodos indiretos de avaliação da carga interna de treinamento. Dentre estes, podemos destacar os questionários e auto relato mas estes apresentam baixa reprodutibilidade e validade em relação as variáveis padrão-ouro.

Outros parâmetros recentemente utilizados para quantificar a carga interna de treinamento são: a frequência cardíaca (FC) e a percepção subjetiva de esforço (PSE) geralmente utilizada em atividades cíclicas que apresentam boa concordância. Entretanto, quando utilizamos estes parâmetros em atividades intermitentes não há uma boa concordância. Apesar disso, a utilizamos amplamente a PSE no dia a dia devido a sua extrema acessibilidade.

Conceituando percepção subjetiva de esforço

Borg (1982) define a PSE como a integração de sinais periféricos (músculos e articulações e centrais (ventilação) que, interpretados pelo córtex sensorial, produzem a percepção geral do empenho.

Entretanto, a PSE tem sido investigada nos últimos anos como ferramenta de monitoramento da carga das sessões de treinamento com maior ênfase.  Esse modelo foi proposto por Foster et al. (1996) com o intuito de quantificar a carga de treinamento. A metodologia é baseada em um questionamento trinta minutos após o término da sessão de treinamento em relação a intensidade de treinamento. Sua resposta é fornecida a partir do questionamento da escala apresentada abaixo:

Escala da carga das sessões de treinamento

Ainda, Foster et al. (2001) atribuem a nota fornecida para a sensação de esforço global. E também sugerem o intervalo de 30 minutos para que atividades leves ou intensas realizadas ao final da sessões de treinamento não interfiram no resultado da avaliação.

Mas o que realmente me interessou por essa escala PSE para quantificação da carga interna de treinamento foi como que ela pode ser representada graficamente. Assim podemos determinar quais foram as sessões que possam estar fora dos parâmetros de treinamento esperados. Para isto, precisamos utilizar uma unidade de medida chamada de unidades arbitrárias que consistem no cálculo da nota fornecida pelo atleta em relação ao tempo total da duração da sessão de treinamento realizada.

Segue um exemplo abaixo da quantificação da carga das sessões de treinamento (Foster et al., 2001):

Tabela - Unidade Arbitrária

Resumidamente esse gráfico nos mostra os resultados da utilização da PSE em uma semana de treinamento em unidades arbitrárias (que são o cálculo da intensidade X volume da sessão de treinamento).

Exemplo desse cálculo:

Sexta-feira: A intensidade do treinamento foi de 9 X Duração da sessão de 50 minutos = 450 unidades arbitrárias.

Essa utilização gráfica é importante pois é uma ótima estratégia para que de maneira simples e extremamente efetiva possamos controlar a carga de treinamento através de algumas percepções, por exemplo, se observarmos monotonia entre as sessões isso pode sugerir adaptações negativas do treinamento, o que pode levar a chance de overtraining.

Apesar de ser um relativamente novo, pode ser uma estratégia de baixo custo para usarmos em nossas aulas de personal e até mesmo em salas de musculação (porque não ?). Mas, sugiro utilizar a PSE com cautela, devemos primeiro estar ambientados a entender como atribuir as notas das sessões de treinamento para depois utilizarmos em nossos alunos.

Conclusão

O controle da carga de treinamento é dependente do tipo de atividade a ser realizada (intermitente ou contínua). A CET é referente as variáveis que agem sobre o corpo do indivíduo durante a prática de treinamento como tempo de execução da atividade, velocidade de corrida, inclinação e a frequência semanal em atividades contínuas e repetições, número de séries, tempo de intervalo, peso levantado, quantidade de exercícios em atividades intermitentes.

A CIT é referente as respostas fisiológicas agudas do organismo durante uma sessão de treinamento. Ou seja, a magnitude das respostas de variáveis como frequência cardíaca, volume sistólico de ejeção, débito cardíaco, pressão arterial, vasoconstrição, vasodilatação, produção de calor, sudorese e metabolismo celular são algumas das variáveis de CIT em treinamento de atividades contínuas e níveis de cortisol e lactato sanguíneo são algumas variáveis internas de atividades intermitentes.

Para tanto, é necessário que tenhamos organização para poder controlar as variáveis de treinamento afim de controlar melhor o programa de periodização.

Leia também:
11 Exercícios Fundamentais no Treino Funcional
A Importância da Educação Física Escolar na Formação do Indivíduo
Tratamento de Desvios Posturais Através de Exercícios Físicos

Referências
ROSCHEL, Hamilton; TRICOLI, Valmor; UGRINOWITSCH, Carlos. Treinamento físico: considerações práticas e científicas. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 53-65, 2011.
LAMBERT, M.I.; BORRESEN, J. Measuring training load in sports. International Journal of Sports Physiology and Performance, Champaign, v.5, n.3, p.406-11, 2010.
BISHOP, D. An applied research model for the sport sciences. Sports Medicine, Auckland, v.38, n.3, p.253-63, 2008. BORRESEN, J.; LAMBERT, M.I. The quantification of training load, the training response and the effect on performance. Sports Medicine, Auckland, v.39, n.9, p.779-95, 2009.
Kuhn, T. S., & das Revoluções Científicas, A. E. (2000). Editora Perspectiva. São Paulo.
IMPELLIZZERI, F. M. et al. Physiological assessment of aerobic training in soccer. Journal of Sports Sciences, London, v. 23, no. 6, p. 583-592, 2005.
FOSTER, C. et al. A new approach to monitoring exercise training. Journal of Strength and Conditioning Research, Champaign, v. 15, no. 1, p. 109-115, 2001.
BORG, G. A. Psychophysical bases of perceived exertion. Medicine and Science in Sports and Exercise, Madison, v. 14, no. 5, p. 377-381, 1982.

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