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Quando o assunto é treinamento, as pessoas dobram a atenção. E se tratando de ganhos de massa ou hipertrofia, o interesse é maior, tanto por profissionais da área como por praticantes.

Sabemos da importância da força muscular na qualidade de vida e promoção da saúde, além dos resultados estéticos.

As capacidades funcionais são efetivamente melhoradas com o treinamento desta qualidade física, também existe a atenuação da perda de massa muscular decorrente do processo de envelhecimento, além de incrementar o desempenho e prevenir lesões.

No modelo de treinamento clássico de força o indivíduo deve treinar com alta intensidade, caracterizado por cargas superiores a 65% de 1RM(repetição máxima).

Isto promove, comprovadamente, aumento significativo da força e hipertrofia muscular através do estresse mecânico, do controle neuromotor, das demandas metabólicas e das respostas endócrinas.

Porém, indivíduos que sofrem de algum tipo de doença osteoarticular, morbidades, processos pós-cirúrgicos ou lesões são incapazes de realizar esforços mais intensos. Assim, existem outras possibilidades de treinamento.

Dentre as técnicas de treinamento, surgiu um método para potencializar os efeitos do treinamento clássico de força e hipertrofia, principalmente para essa população que apresenta ganhos surpreendentes, que é o treinamento com oclusão vascular, criado por Yoshiaki Sato.

O método de oclusão vascular está relacionado á possibilidade de se obter bons resultados sobre o aumento da força e da massa muscular decorrentes de treinamentos com a utilização de baixas cargas externas (intensidade de 20 a 50% de 1RM). Porém, não substitui o treinamento convencional para pessoas saudáveis.

Até mesmo exercícios como a caminhada com oclusão vascular tem o benefício da hipertrofia. Mas, existem alguns cuidados a serem tomados bem como protocolos a serem seguidos. Além disso, esse treinamento deve ter o acompanhamento de um profissional da educação física para que este monitore os exercícios.

É necessário saber quando, por que, como fazer, quais objetivos e só por ultimo decidir para quem será destinado esse tipo de treinamento. Tudo isso para que não ocorra problemas decorrentes do uso da oclusão vascular.

O que é oclusão vascular?

O termo oclusão se refere ao ato ou ação de fechar, impedir o fluxo natural com um bloqueio ou fechamento proposital. Na medicina seria o fechamento momentâneo de uma abertura natural do organismo.

Assim, a oclusão vascular é uma técnica que consiste em bloquear o fluxo sanguíneo em determinada região. Geralmente nas extremidades proximas de membros superiores ou inferiores.

É uma estratégia bastante utilizada durante treinos de hipertrofia (treinamento para enrijecimento e crescimento dos músculos).

Nesse caso, o fluxo sanguíneo é bloqueado na região muscular a ser trabalhada com a intenção de potencializar o ganho de massa muscular. O fluxo sanguíneo é um importante componente no transporte de oxigênio para o músculo durante sua atividade.

Idealizador do método

Essa técnica foi desenvolvida pelo cientista e fisiculturista japonês Yoshiaki Sato na década de 60, através de testes com treinamento em isquemia feitos nele mesmo. Foram várias as intervenções para determinar onde aplicar a pressão para reduzir o fluxo sanguíneo envolvido na musculatura trabalhada.

Aos 25 anos, Sato sofreu um acidente rompendo alguns ligamentos e com fraturas em alguns ossos. Como teria que ficar com a perna imobilizada e pensando que teria como resultado disto a atrofia muscular, realizou exercícios leves com oclusão vascular feita por elásticos na perna lesionada.

Após 2 semanas, teve um diagnóstico médico surpreendente, ou seja, além de ter sido impedida a atrofia muscular o músculo havia se hipertrofiado.

Esses testes fizeram com que ele desenvolvesse o método de treinamento com oclusão vascular na Universidade de Tóquio conhecido hoje mundialmente como Kaatsu Training. Atualmente existem diversos estudos que comprovam a eficiência desse método.

Os estudos de  Sato comprovam que o treinamento com baixas cargas associado á oclusão vascular apresenta eficiência no aumento de força e hipertrofia muscular, que é semelhante ao observado no treinamento resistido com cargas elevadas e apresentam melhores resultados que o treinamento com baixa intensidade sem oclusão.

Nos exercícios de resistência, a intensidade de treinamento ou carga utilizada é considerada a variável mais importante. Essa variável geralmente é quantificada em função do peso máximo (100%) que se pode levantar em uma única vez.

Estudos apontam que para estimular o ganho de força, a carga deve ser de pelo menos 60 a 65% de 1RM e para hipertrofia a carga deve girar em torno de 70 a 80 % de 1RM.

Mas dependendo do caso, é inviável usar cargas altas como, por exemplo, idosos, pois as articulações seriam sobrecarregadas.

Nesse ponto, entra o treino com oclusão vascular (com restrição parcial do fluxo sanguíneo) que tem resultados semelhantes ao treino clássico com cargas elevadas, mas utiliza cargas baixas.

Basicamente, o método de treinamento consiste da realização de exercícios em baixa intensidade onde a carga deve girar em torno de 20 a 30% de 1RM com o acoplamento de um manguito (faixa) colocado sobre a parte proximal de um dos membros superiores e/ou inferiores, onde uma adequada pressão é controlada. A área que é acoplada o manguito deve ser precisa.

Sato diz que, os melhores e mais seguros níveis pressóricos estão entre 120 e 150 mmHG(milímetros de mercúrio) para membros superiores e algo em torno de 200mmHG para os membros inferiores.

Ainda não são exatos os mecanismos pelos quais há aumento de força neste tipo de treino, mas o estresse metabólico provocado pela redução do fluxo sanguíneo parece ser suficiente para alavancar o menor estimulo tensional decorrente de uma carga de treino baixa.

Os estudos demonstram que há uma maior ativação das fibras tipo II (com maior potencial hipertrófico) devido ao aumento das concentrações de lactato (que inibe a contração das fibras musculares, obrigando o corpo a recrutar mais fibras no mesmo nível de geração de força), que são as fibras de contração rápida, há um estimulo do aumento dos fatores de crescimento (hormônio do crescimento- GH) e aumento da síntese proteica.

Tudo isso ocorre devido ao estresse metabólico que o torniquete com o manguito causa, acumulando o sangue na musculatura trabalhada.

Como aplicar oclusão vascular no treino?

Para aplicação prática da oclusão vascular, geralmente, utiliza-se um manguito inflável com manômetro acoplado, que pode ser colocado na parte proximal do braço ou da coxa.

O equipamento funciona como um esfigmomanômetro que é utilizado para aferição da pressão arterial, porém com medidas adaptadas que possibilitam um maior conforto e mobilidade para a execução de exercícios.

A pressão utilizada durante os exercícios deve possibilitar a oclusão venosa total, mas não deve interferir no fluxo arterial ou este ser parcial. Eles são inflados seguindo um protocolo pré-determinado e colocados em posições precisas.

Durante o exercício podem desinflar, precisando de reajuste. Durante o intervalo entre as séries é comum a oclusão ser aliviada.

A sessão de treinamento padrão deve ter carga de 20 a 30% de 1RM e oclusão com valor de 50% da pressão arterial sistólica (PAS) para membros superiores e 75% da PAS para membros inferiores.

Este protocolo é o indicado pela própria certificação do método. Porém, alguns pesquisadores utilizam de 50 a 60% de 1RM e valores de até 200% da PAS para oclusão.

Geralmente, alternam-se os exercícios entre membros superiores e inferiores.

Podem ser seguidas as seguintes diretrizes e de preferência com o acompanhamento de um personal que estará constantemente monitorando os exercícios:

  • A oclusão deve acontecer na porção proximal dos membros superiores ou inferiores. Há um ponto preciso, onde o fluxo venoso é ocluído e não o arterial;
  • Podem-se utilizar garrotes, elásticos ou bolsas pneumáticas. Mas o ideal seria o manguito (bolsa pneumática) com manômetro acoplado;
  • A pressão pode variar entre 100 a 250 mmHG;
  • As cargas variam entre 20 a 50% de 1RM com ou sem falha muscular;
  • Pode ser realizado de 2 a 3 vezes na semana;
  • Podem ser realizados de 1 a 3 blocos por exercício;
  • Cada bloco pode durar 5 minutos e incluir de 2 a 4 séries, de 10 a 30 repetições, com 30 a 60 segundos de intervalo entre as séries com alivio da pressão;
  • Após a aplicação do bloco, deve-se liberar a oclusão par a reperfusão e recuperação mantendo 5 minutos de intervalo entre os blocos.

O mecanismo para geração de força e hipertrofia deste método não se dá por dano ou inflamações, mas por acúmulo de metabólitos, portanto há um limite no quanto se consegue estimular por sessão de treinamento. Mas esses dados ainda não são precisos, por isso cautela na hora de aplicar é fundamental.

Até mesmo os exercícios aeróbicos de baixa intensidade, como a caminhada, que comumente não promove hipertrofia muscular, quando realizado com oclusão vascular tem como resultado aumento na secção transversa as coxa comprovado em estudos.

Em se tratando de volume e intensidade, ainda não há exatidões nas pesquisas, só se tem informações que é melhor treinos acima de 8 semanas, 2 a 3 vezes por semana e com no mínimo 75 repetições por semana.

Vantagens e desvantagens da oclusão vascular

Vantagens:

  • O treinamento muscular com restrição moderada do fluxo sanguíneo com baixa intensidade pode induzir o mesmo aumento do volume muscular quando comparado ao treinamento com alta carga;
  • Em virtude das cargas baixas utilizadas, diminui-se o estresse sobre as estruturas não contráteis, como articulações e tendões;
  • Exercícios de resistência menor que 50% de 1RM são eficazes na hipertrofia muscular, associado ao aumento da força, quando combinado com oclusão vascular;
  • O treinamento de baixa intensidade com oclusão deve ser visto como um dos mais promissores programas de treinamento físico para idosos saudáveis, atletas, jovens e também na reabilitação pós-operatória;
  • A redução do fluxo sanguíneo muscular na oclusão vascular é considerada susceptível a induzir a secreção do hormônio do crescimento;
  • Quando se faz movimentos compostos, os ganhos não são só na musculatura alvo da oclusão vascular, mas também na musculatura que não estava em isquemia como o peitoral no exercício de supino, mas os ganhos são menores quando comparados ao treino convencional;
  • Melhora as concentrações séricas de metabólitos responsáveis pela formação óssea, contribuindo para o aumento da densidade mineral óssea (DMO), principalmente benéfico para idosos;
  • Se utilizado com pressão relativamente baixa, por exemplo, entre 50 e 150 mmHG, é potencialmente útil para aumentar a força e resistência sem causar desconforto;
  • Melhora do VO2 em treinamento resistido em isquemia;
  • Melhora do desempenho aeróbico e anaeróbico em atletas em treinamento intermitente com hipóxia;
  • Na reabilitação, sua prática minimiza o estado de atrofia muscular em situações de lesões com imobilização, sendo considerado um excelente método no auxilio da reabilitação pós-cirúrgica de ligamento cruzado anterior do joelho;
  • Há um significativo efeito na redução da pressão arterial após a prática de treinamento de força com oclusão vascular tanto em pessoas que tem pressão arterial normal (normotensos) quanto naqueles que tem pressão arterial elevada (hipertensos).

Desvantagens:

  • O efeito prolongado da isquemia (redução do fluxo sanguíneo) ao músculo pode levar a necrose (morte celular) do tecido muscular ou a formação de trombos (coagulação de sangue no interior do vaso sanguíneo);
  • A maneira mais segura de realizar o treinamento com oclusão vascular é com manguitos infláveis, mas como é difícil conseguir este material muitas vezes são usados elásticos que tem como fator limitante a impossibilidade de aferir com exatidão a pressão exercida, o que aumenta consideravelmente o risco de lesões e outros efeitos nocivos;
  • Sem os manguitos como relógio para aferir a pressão exata e essa aplicação ser igual em ambos os lados, muitas pessoas aplicam o método na tentativa e erro. Isso levou o próprio criador do método a ser hospitalizado;
  • Nem todas as pessoas suportam esse tipo de treinamento devido ao estresse metabólico. Quem tem baixa tolerância a sensação de cansaço e dor que o método causa não se adapta;
  • Alguns efeitos colaterais podem surgir como: hemorragia subcutânea (gera hematomas e some com o tempo, tendo um efeito apenas estético), dor extrema, dormência, coceira, sensação de frio e de forma mais rara danos cardiovasculares;
  • Ainda não se tem o conhecimento se esse método pode pelos aumentos de pressão gerar algum tipo de hipertrofia cardíaca prejudicial a longo prazo, como ocorre com hipertensos e com quem faz uso de anabolizantes.

Cuidados a serem tomados

  • Necessária cautela com indivíduos que apresentem qualquer doença ou disfunção cardiovascular, pois o tipo de atividade (caminhada ou treino de força), nível de esforço (repetições máximas ou não) e a pressão utilizada durante o treinamento podem levar a excessivas ou adicionais demandas do sistema cardiovascular;
  • Se sentir dormência ou formigamento significa que a pressão está muito forte;
  • Por gerar estresse metabólico elevado a capacidade momentânea de produzir força é diminuída sendo recomendadas cargas baixas nos exercícios de musculação;
  • O ponto a ser feito a oclusão deve ser correto, sempre no ponto mais proximal dos membros. Nos braços, deverá ser na região mais próxima das axilas e nas pernas, na região mais próxima dos glúteos;
  • O método se baseia em uma oclusão vascular, mas sem oclusão arterial. Por isso a necessidade de um treino com acompanhamento de um profissional com formação acadêmica e capacitação para aplicar este treino.

Conclusão

Podemos perceber que o treinamento com oclusão parcial do fluxo sanguíneo, ou kaatsu training, pode ser um importante recurso no ganho de força e hipertrofia e proporciona um treinamento com cargas baixas, que consequentemente não sobrecarrega articulações, além de proporcionar resultados semelhantes aos de um treinamento convencional.

Recomendado para diferentes públicos, este tipo de treino pode oferecer vantagens que desvantagens, elaborado sozinho ou em conjunto com outras modalidades desde que obedecendo os parâmetros para sua aplicação.

No entanto, apesar de ser um método útil e seguro para ganho de volume e força muscular, é necessário ter cautela, pois vários pontos merecem atenção, como dor e desconforto durante o treinamento devido ao manguito e os possíveis efeitos sobre a circulação devido à oclusão, incluindo trombose e edema, sendo necessária uma maior atenção quanto à segurança desse treinamento.

E acima de tudo, o kaatsu training não é melhor que o método convencional de alta intensidade, ele é tão bom quanto, ou seja, é apenas mais uma técnica utilizada pelo professor de educação física como ferramenta de trabalho dependendo do objetivo, para quem, como e por quanto tempo será aplicado.

Assim, devemos atentar para todas as questões elucidadas aqui e saber exatamente se há necessidade ou não de executar esse método antes de sair por aí aplicando torniquete em braços e pernas sem acompanhamento e sem controlar a pressão de forma adequada.

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