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Toda criança necessita brincar e ter um momento em que possa se conectar consigo mesma. Seja simplesmente pelo divertimento, pelo desenvolvimento da imaginação ou pela alfabetização corporal, é inegável a importância do brincar nos primeiros anos de vida. 

Por isso, nesse texto trataremos sobre os principais aspectos influenciados pelo brincar e, em especial, como a alfabetização corporal é beneficiada por esse ato. E então, ficou curioso? Continue lendo para descobrir mais!

As possibilidades criadas pelo brincar

Quando tratamos sobre esse assunto, podemos pensar em Santin. Ele nos coloca que, no mundo infantil, as brincadeiras lúdicas assumem uma importância considerável. Isso acontece devido ao interesse e o prazer que as crianças demonstram quando brincam e ao fato delas se realizarem em atmosferas caracterizadas pela liberdade e pela criatividade e marcada pela fantasia, num ambiente livre de pressões.

Além disso, esse ambiente lúdico também desenvolve a capacidade da criação. Nele são concebidos espaços, mundos, personagens e falas; em alguns casos, ocorre a fuga à realidade ou a manifestação da realidade que se quer. Apesar disso, temos que o mais importante neste espaço é o fato de que a criança cria um mundo somente dela.

A criança, por meio da brincadeira, é capaz de criar e viver o impossível, adquirindo várias aprendizagens. Entre elas estão a socialização e a comunicação, além do ponto que sua ação e atuação com o brinquedo favorece a construção dessas aprendizagens. 

A importância do brincar está no fato de que isso faz com que essas crianças experimentem situações e emoções do seu entorno infantil e do mundo dos adultos, estabelecendo e vivendo relações, criando regras, estruturando e reconhecendo o outro. Ou seja: elas se colocam na sociedade de modo a se apropriar do mundo e de tudo que está envolvido nele.

A importância do brincar e o contexto escolar

Em nossa sociedade movida e motivada pelo rendimento, a escola incorporou um conceito de formação profissional. Isso significa que ela busca educar para o amanhã, unindo todos os esforços para desenvolver uma base muito forte na leitura e no cálculo.

Isso acontece porque existe uma visualização da educação como exclusivamente intelectual; tal visão deixa de lado condutas que desenvolvem a convivência social (como a expressão pessoal, a aprendizagem de viver o próprio mundo interior, a aceitação do grupo e da comunidade, entre outros) que são muito proveitosas para as crianças. Por isso, é necessário reconhecer a importância do brincar e valorizar ambos os lados.

A atual forma de desenvolvimento da nossa educação, ainda segundo Santin (2001), nega a importância do lúdico, valorizando uma educação que em nada contribui para as práticas lúdicas. Assim, o educar é transformado em apenas práticas racionalizadas, lógico-matemáticas, técnicas e produtivas.

O homem deste novo século está sendo conduzido a um estilo de vida dominado pela seriedade do trabalho e por uma educação intelectual. Assim, deslocam-se as atividades lúdicas à vida infantil, nas quais ela teria um valor puramente estético e improdutivo. Esse julgamento, inclusive, muitas vezes é repassado aos filhos destes nas aulas de Educação Física.

Um olhar histórico sobre o elemento lúdico

Ao pensarmos sobre o lúdico, logo surge em nossas mentes o elemento jogo; ambos têm significados parecidos, a ponto de um assumir a função do outro. A origem da palavra “lúdico” vem da palavra ludus, do latim, que podemos traduzir por jogo; no sentido original, “lúdico” significa divertir-se.

Atualmente, os dicionários definem lúdico como o que é relativo ao jogo, acrescentando que se trata de uma atividade infantil. Por isso, esses conceitos são compreendidos como brinquedo ou brincadeira. Nesse contexto, a palavra “jogo”, tradução de jocus (também do latim), em algumas línguas pode ser entendida como sinônimo de lúdico.

Na tradição grega, encontramos esse entendimento através da palavra Paikso, que significa divertir-se. Nela temos a ideia de que esse é o modo de agir da criança, já que ela provém da raiz País – Paidos (menino, filho).

Ao longo dos tempos as atividades lúdicas foram praticadas de maneiras distintas, retratando a evolução de cada grupamento social e do próprio homem; assim, a importância do brincar foi sendo inserida em cada local. Na antiguidade, por exemplo, os gregos possuíam o entendimento de que os jogos retratavam as ações características das crianças.

Para o povo judeu, por sua vez, o jogo possuía o significado de gracejo e riso. Já para os romanos, o jogo expressava alegria. Com isso, percebemos que ao longo dos séculos o jogo esteve ligado não somente à criança, mas também à sociedade de uma forma geral, sendo influenciado pelo contexto sócio-cultural de cada civilização.

A sociedade exerce uma influência muito grande no exercício prático das atividades físicas lúdicas. Tendo a característica de ser um fenômeno construído da atividade do próprio homem, o jogo surge da cultura, sendo impossível a sua existência sem elementos culturais e educacionais.

Assim, temos que o elemento lúdico dos jogos sempre esteve presente nas mais diversas fases do desenvolvimento histórico das civilizações, fato que podemos constatar nas palavras de Elkonin (1998). Desde os mais remotos tempos é possível a percepção de diversos jogos nas mais variadas sociedades que se teve conhecimento.

Nas tribos primitivas, por exemplo, existiam os jogos festivos – sempre realizados quando havia a necessidade de alguma comemoração. Além disso, parte da preparação da criança para a vida adulta e sua consequente apropriação cultural era realizada por intermédio dessas atividades.

A importância do brincar para Wallon, Vygotsky e Piaget

Com a contribuição de pesquisadores na área educacional, principalmente de Wallon, Vigotsky e Piaget, a infância ganha outra importância. A partir daí, a criança deixa de ser tratada como um pequeno adulto para ser respeitada como um sujeito que se encontra em formação. Ela passa as ser vista como possuidora de necessidades específicas para que venha a se tornar um adulto ciente de seus papéis frente ao seu futuro universo social.

A importância do brincar para Wallon

Wallon, por exemplo, demonstra que aspectos como a afetividade e a atividade motora possuem importância decisiva no complexo interjogo funcional do desenvolvimento da criança. A sua teoria do desenvolvimento da personalidade integra afetividade e inteligência, tendo como marca a dinâmica de rupturas e sobreposições por meio de “alternâncias funcionais”. Dessa maneira, ele acredita que as mudanças de fase não se dão por sucessão linear.

A importância do brincar para Vygotsky

A teoria de Vygotsky, por sua vez, nos coloca que o ser humano se caracteriza por uma sociabilidade primária que marca o início de suas interações sociais com o seu entorno. Essas interações, para ele, desempenham um papel construtivo do desenvolvimento. Assim, temos que a importância do brincar está no fato de que certas funções mentais superiores (como a atenção voluntária, a memória lógica e as emoções complexas) não poderiam surgir e se constituir sem o aporte construtivo das interações sociais.

A importância do brincar para Piaget

As teorias de Piaget, por fim, buscam implantar nos espaços de aprendizagem uma visão de educação diferenciada e inovadora. Essa visão busca formar cidadãos criativos e críticos. De acordo com suas concepções, o professor não deve apenas ensinar, mas sim e antes de tudo orientar os educandos no caminho da aprendizagem autônoma. Assim, também caberia ao professor motivar seus alunos a descobrir, agir, destruir, reconstruir e produzir.

Piaget (1977) afirma que, ao aprender, o indivíduo não tem um papel passivo perante as influências do meio; pelo contrário, ele procura adaptar-se essas influências com uma atividade organizadora. Nesse sentido, a aprendizagem é um processo adaptativo em função de respostas dadas pelo sujeito a um conjunto de estímulos anteriores e atuais. Sendo assim, o desenvolvimento é um fator condicionante da aprendizagem.

A importância do brincar no processo de alfabetização corporal

O jogo e o brincar muitas vezes se confundem, mas na realidade existe uma diferença de significados que se complementam. Isso porque o jogo busca a competição, um elemento importante, e é focado no final da atividade; além disso, ele tem regras estabelecidas e dificilmente modificadas, sendo uma atividade física ou mental.

Já a importância do brincar não está no resultado, mas sim na vivência de momentos de encontro consigo mesmo ou com o outro. Por isso, o foco são os momentos de fantasias e de realidades que produzem experiências e conhecimentos concretizados através da aprendizagem. O brinquedo, diferentemente do jogo, proporciona uma relação íntima com a criança, tendo a característica da inexistência de qualquer espécie de regra.

Nesse contexto, temos que o jogo, enquanto conteúdo educacional, não deve ser excluído do processo de alfabetização corporal pelo fato de haver competição. Ao contrário, percebemos que ele deve ser estimulado, visto que ele é um instrumento pedagógico muito rico, pois possibilita o desenvolvimento de vários conhecimentos. Assim, ele também é capaz de fornecer à criança um ambiente agradável, motivador e prazeroso, proporcionando aprendizagens significativas para a vida em sociedade. 

O papel da escola no longo caminho da alfabetização corporal

A escola acabou fragmentando o seu fazer pedagógico em “hora de ensinar” e “hora de brincar”, não levando em consideração o fato de que ambas podem ser trabalhadas de maneira conjunta, integrada e simultânea. Assim, houve uma falha ao não perceber que o comportamento, o ato e a maneira da criança agir e sentir o mundo também dependem de uma possibilidade muito rica de estimulação e desenvolvimento da criança.

Seguindo essas ideias, temos que a escola deve ser um espaço onde as crianças possam explorar ao máximo as atividades lúdicas. Ela deve ter um ambiente marcado pela liberdade e criatividade, deslocando o poder da sala de aula e levando as possibilidades também para o pátio. Nesse sentido, a importância do brincar está nessa chance de expandir as alternativas de ensino.

Assim, estaria sendo feito uso do imenso potencial que o simples ato de brincar pode oferecer. As instituições de ensino devem saber aproveitar os valores que são vivenciados pela atividade lúdica por meio das capacidades de simbolizar, de criar, de brincar em liberdade e de forma gratuita, além proporcionar momentos de extrema alegria para as crianças.

Conclusão

As ideias de Piaget, Vygotski e Wallon, demonstram o quanto é importante respeitar a criança. Por isso, devemos dar atenção especial ao fato dela ser um ser humano em processo de formação que necessita de cuidados específicos e de um mundo de estímulos positivos para o seu crescimento cognitivo, sócio-afetivo e motor. 

Assim, percebemos que a importância do brincar é presente em diversos momentos. Seja na formação educacional, pessoal ou psicológica da criança, tanto ela quanto a educação física são extremamente relevantes e sua prática deve ser estimulada.

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