O Profissional de educação física depara-se frequentemente com indivíduos que possuem lesões, uma das lesões mais comuns é a bursite. A bursite pode ocorrer em qualquer articulação sinovial, estas são as principais envolvidas no exercício físico que serão melhor detalhadas a seguir. Por isso, é importante que você, professor, tenha uma boa compreensão da funcionalidade das articulações, exercícios e o que fazer ao se deparar com algum cliente com bursite. Para isso vamos compreender um pouco melhor sobre articulações.
Articulação é a união de dois ou mais ossos. A classificação das articulações ocorre de três maneiras, a primeira diz respeito ao seu grau de liberdade de movimento, a segunda é relacionada a sua estrutura e a terceira corresponde a nomenclaturas específicas de acordo com sua funcionalidade. Irei focar em esclarecer um pouco sobre as articulações segundo as suas estruturas.
Quando classificamos uma articulação por sua estrutura existem três classificações possíveis:
Fibrosas: Ossos que se unem por meio de um tecido conjuntivo fibroso, dificilmente possuem movimento.
Fibrocartilaginosas: Ossos que se unem por meio de um tecido conjuntivo fibroso, possuem ligeiro grau de movimento.
Sinoviais: As que mais nos interessam, correspondem a 80% de um esqueleto adulto e 100% das articulações dos membros superiores e inferiores. Apresentam cavidade articular e são amplamente móveis. São nestas articulações que a bursite pode ocorrer. As articulações sinoviais são constituídas de cápsula articular, membrana fibrosa, membrana sinovial, liquido sinovial, cartilagem e bursa.
Vamos compreender melhor:
Cápsula articular: Envolve a articulação composta por membrana fibrosa externa de revestimento e membrana interna ou sinovial. A membrana fibrosa externa é a principal responsável pela estabilização articular, já a membrana sinovial é um tecido conectivo vascularizado frouxo, responsável pela produção de líquido sinovial.
Líquido Sinovial: Este é um líquido com textura semelhante a uma clara de ovo, intraarticular, tem sua viscosidade diminuída com o aumento da freqüência de movimento articular, mostrando assim a importância da prática regular de exercícios. Com sua viscosidade diminuída ocorre menor atrito articular e favorecendo o movimento. Este líquido é o grande responsável pela lubrificação articular.
Cartilagem (hialina): Recobre os ossos que constituem a articulação. Possui a função de reduzir o estresse e atrito prevenindo a saúde dos ossos. Não é um tecido vascularizado, o que dificulta qualquer processo de regeneração. O mal uso dos exercícios físicos e movimentos repetitivos comprometem este tecido.
Bursa: A bursa é uma glândula que se localiza entre ossos e estruturas móveis como músculos, pele e tendões. Sua principal função é facilitar um melhor deslizamento entre essas estruturas, por isso a bursa é um importante componente articular para o movimento.
O que é Bursite?
A bursite é a inflamação da bursa articular. Essa estrutura que tem como função amortecer e auxiliar no deslizamento dos tecidos ao inflamar forma uma estrutura cheia de líquido. Os locais mais comuns de surgirem são na bursa subdeltoidea, bursa do olécrano e bursa pré-patelar porém, podem surgir em qualquer articulação sinovial.
Sua etiologia não é totalmente conhecida, acredita-se hoje que o principal fator de risco para o desenvolvimento desta lesão é o movimento repetitivo em excesso. Nos levando a ficar atentos tanto em exercícios e movimentos repetitivos que nosso clientes possam ter um função do trabalho ou algum hábito postural.
Os principais sintomas relacionados a bursite são dor, edema, inflamação e restrição de movimento.
Diagnóstico
A bursite é detectada principalmente através de ressonância magnética, portanto, quando seu cliente referir alguma dor em articulação que não esteja diminuindo e que esteja restringindo a amplitude de movimento, aconselhe-o a ir no ortopedista para realizar uma ressonância, para que com uma investigação melhor seja detectado a verdadeira razão do incomodo. Sendo a bursite, devemos seguir algumas recomendações para que não pioremos o quadro e sim levarmos a diminuição desta dor.
As características da bursite são gerais, dor na região afetada e diminuição no grau de movimento articular. Porém, cada articulação tem suas peculiaridades, então vamos ver agora de forma mais específica quais as orientações a serem seguidas de acordo com os principais locais que desenvolvem-se bursites.
Tipos de Bursite
Bursite Subdeltoidea
A bursite subdeltpoidea localiza-se no ombro. O ombro é uma das articulações do corpo com maior amplitude de movimento e possui certa instabilidade. Essas características combinados com a rotina da maioria das pessoas que geralmente fazem muitos movimentos com os braços acima do nível do ombro colaboram para o desenvolvimento da bursite subdeltoidea.
O espaço subacromial é o espaço entre o arco coracoacromial e a cabeça umeral que em um adulto mede aproximadamente 1 cm. Dentro deste espaço nós temos o músculo e o tendão supraespinal, a bursa subacromial, a cabeça longa do bíceps e parte da cápsula articular superior.
A bursa subacromial possui a função de proteger os tecidos moles e vulneráveis como o músculo e tendão supraespinal da superfícia rígida do acrômio. Fora do especo subacromial temos a extensão lateral da bursa subacromial, a bursa subdeltóidea. Esta última bursa limita as forças de fricção entre o músculo deltóide e o tendão supraespinal subjacente e a cabeça do úmero.
A dor gerada pela bursite diminui a amplitude de movimento. No caso do ombro isto vai depender de qual grau esta a bursite. O recomendável é que se evite movimento à cima do nível do ombro, pois nesta angulação a área da bursa sofre significativa compressão, aumentando a dor e podendo piorar a inflamação.
Os exercícios recomendados são exercícios que mobilizem os músculos do manguito rotador (subescapular, infraespinal, supraespinal e redondo menor) e os músculos que auxiliam o funcionamento do manguito. Estes são os músculos que envolvem o movimento da escápula, são eles: Serrátil anterior, trapézio (descendente, ascendente e transverso), elevador das escápulas, rombóides e peitoral menor.
É importante Professor que você realize uma avaliação em seu cliente, para que veja quais os músculos que estão hipertônicos e hipotônicos, para saber em quais vocês precisará focar força e em quais você precisará focar mais flexibilidade.
O mais importante é não realizar exercícios que combinem abdução e rotação externa de ombro, esta é outra postura que aumenta muito a compressão na região inflamada. Deve-se priorizar exercícios que os braços não se elevem mais que 90º na maioria dos casos.
Bursite no Olécrano
Esta bursite ocorre no cotovelo em uma pequena bursa que se encontra na ponta do cotovelo. A bursite nesta região pode ocorrer por choques fortes como quedas. Pode ocorrer também pelo hábito de apoiar a ponta dos cotovelos em superfícies rígidas, a realização deste hábito regularmente em excesso pode gerar uma irritação na bursa que gera a sua inflamação. Nestas duas últimas explicações a bursa é lesada e é preenchida por sangue distendendo a região, podendo gerar hematoma e sem dúvidas edema.
Por último, a bursite no olécrano pode ocorrer por alguma infecção, neste caso a bursa não se enche de sangue, mas de pus, deixando a região avermelhada, dolorida e quente.
Independente da forma de como foi constituída a bursite no olécrano ela gera dor e impossibilita apoiar o cotovelo em superfícies rígidas. A bursite no olécrano gerada por trauma geralmente evolui favoravelmente deixando a articulação em repouso.
O corpo reabsorve o sangue na bursa em algumas semanas e a bursa volta ao normal. Caso o edema da bursa esteja demorando para diminuir, pode ser necessário uma drenagem com agulha para remover o sangue e acelerar o processo. Sempre existe um pequeno risco de levar infecção para a bursa durante a drenagem. A bursite crônica do olécrano ás vezes é realmente um incômodo.
O edema e o aumento da sensibilidade pode causar dor. Isso pode ser extremamente doloroso tanto no trabalho quanto em atividades do cotidiano. O tratamento geralmente começa na tentativa de controle da dor e da inflamação. Isso pode incluir um pequeno período de repouso. Atualmente não temos uma recomendação específica para este quadro quando se refere a exercícios, o mais importante parece mesmo ser o repouso.
Caso não seja relatado dor, é possível realizar exercícios monoarticulares que envolvam o ombro para não ficar sem treinar os principais músculos dos membros superiores, porém isto é uma sugestão e deve ser realizado com cautela e acompanhamento profissional.
A ida ao ortopedista se faz importante para saber se é necessário realizar a drenagem ou se a recomendação é tomar algum medicamento e o repouso. Fica a sugestão da utilização de cotoveleira para diminuir o impacto ao apoiar o cotovelo em superfícies rígidas.
Bursite pré-patelar
A bursite pré-patelar como o nome já diz, ocorre no joelho. O joelho possui até 14 bursas, que ao formadas em junções interteciduais, possuem alta fricção durante o movimento, a bursa pré-patelar se encontra anteriormente a patela amortecendo o contato entre a patela e a pele.
Estas junções são referentes a tendões, ligamentos, pele, osso, cápsula articular e ao músculo. Algumas bursas são simplesmente extensões da membrana sinovial, outras são formadas externamente à cápsula.
Atividades que envolvem forças excessivas e repetitivas nessas junções interteciduais, traumas diretos na região anterior da patela ou hábitos como apoiar os joelhos no solo excessivamente podem levar a esta bursite, gerando inflamação nas bursas, dificultando o movimento dos joelhos e gerando dor.
Chamamos a atenção pelo exercício exagerado, esta é uma lesão que pode ocorrer por overtraning. Por exemplo, atualmente estamos observando um aumento no número de pessoas que correm, muitas vezes sem orientação nenhuma.
Caso o individuo que não tinha nenhuma prática de treinamento começa a correr todo dia, sem dar a devida recuperação o excesso de impacto no joelho pode irritar a bursa gerando a bursite pré-patelar. Nos atentamos para como esta a periodização de treinamento dos nossos clientes.
Ficar atentos com as cargas no joelho é uma ótima maneira de prevenir esta lesão, especialmente com um olhar mais clínico com a pressão patelar. O tratamento tende ser conservador com utilização de medicamentos, fisioterapia e em casos mais graves drenagem da região.
Qual a diferença entre Tendinite e Bursite?
Tendinite e bursite podem ser confundidos facilmente, pois os dois ocorrem muito próximos e são inflamações seguidas de edema e dor. A tendinite o ocorre no tendão, o tendão é o final de um músculo que se insere em um osso. O principal fator que leva a tendinite são os movimentos repetitivos, assim como na bursite, porém a diferença é que na tendinite a inflamação encontra-se no tendão e na bursite a inflamação encontra-se na bursa articular.
O diagnóstico para tendinite é através de exames clínicos e ressonância magnética. Estas duas lesões podem surgirem pela realização equivocada de exercícios físicos, por isso o Profissional de Educação Física precisa estar sempre atento quanto a técnica, carga e recuperação de seus clientes.
Conclusão
Quando o cliente referir dor articular deve ser orientado que o mesmo siga para o ortopedista. Ao ser examinado pelo mesmo, este irá orientar qual o problema. Caso seja a bursite, pode ser que inicialmente a recomendação seja a realização de alguma seções de fisioterapia que devem ser feitas a partir do momento que o cliente estiver liberado para a prática de exercícios físicos o Profissional de Educação Física deve-se atentar aos itens citados à cima.
Deve proporcionar um volta progressiva, evitando por exemplo no ombro exercícios que combinem abdução e rotação externa da articulação e, nos casos do cotovelo e joelho evitar atritos e altas cargas compressivas nestas articulações.
Com bom senso, estudo e acompanhamento é possível realizar exercícios. Os exercícios devem focar no retorno da autonomia articular diminuindo a dor e devolvendo a funcionalidade da articulação.
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