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Caro leitor, é com imensa satisfação que estreio a categoria de Psicologia do Esporte aqui no Blog Educação Física. Pretendo trazer conteúdo da área que você possa claramente associar isto com sua prática profissional.

Para começar, vou fazer um apanhado geral da Psicologia do Esporte e a importância dela para o profissional da Educação Física. Se você já é um deles, deve ter tido esta disciplina em algum momento na faculdade. Se ainda é estudante dos primeiros semestres da graduação, apresento-lhe a Psicologia do Esporte.

O que é psicologia do esporte?

Primeiramente, gostaria de explicar que trata-se de uma área que não se preocupa apenas com o envolvimento entre pessoas e o esporte – este último entendido como modalidade instituída, com regras.

A Psicologia do Esporte se preocupa com a pessoa envolvida com o movimento humano de uma maneira geral, seja ele dentro de uma modalidade esportiva de competição profissional, amadora ou de tempo livre. Ou seja, o movimento na atividade física pela manutenção de saúde, tratamento e reabilitação de doenças físicas e psíquicas.

É por esta razão que você também pode encontrar os termos “Psicologia do Esporte e do Exercício Físico”, “Psicologia do Esporte e da Atividade Física” e “Psicologia da Saúde”. Peço-lhe que neste texto considere o termo “Psicologia do Esporte” como já abarcando todas essas outras ramificações.

Embora a Psicologia do Esporte já tenha por volta de cem anos, esta é uma área que ainda vem ganhando espaço, por isto muitas pessoas ainda a desconhecem ou não compreendem sua atuação. Mesmo alguns profissionais do mundo esportivo e dos exercícios físicos não fazem uso deste conhecimento, que pode agregar valor tanto à sua própria prática quanto ao rendimento e ao desenvolvimento de seu aluno/cliente.

Você que está envolvido em temas sobre o movimento humano, pensando principalmente em seus aspectos físicos e fisiológicos, consegue responder às seguintes perguntas?

  1. Quando uma pessoa inicia a prática de uma atividade física, o que exatamente ela busca?
  2. Por que ela escolhe uma modalidade específica quando há muitas outras opções?
  3. Por que ela desiste mesmo quando sabe de todos os benefícios que a atividade lhe proporcionaria?
  4. Como as emoções e pensamentos influenciam o desempenho de atletas especializados?

Embora você conviva com demandas semelhantes a essas todos os dias, talvez não consiga responder a estes questionamentos de forma simples.

Essas perguntas são exemplos de questionamentos feitos pela Psicologia do Esporte e do Exercício Físico – campo de conhecimento que faz conexão com outras disciplinas das chamadas Ciências do Esporte (Rubio, 2000) -, que estuda o comportamento das pessoas em atividades físicas e esportivas para identificar princípios e diretrizes que possam ajudar adultos e crianças a participarem e se beneficiarem de atividades esportivas e de exercício (Weinberg & Gould, 2017).

É uma corrente científica e profissional de conhecimento que se concentra em várias dimensões do comportamento esportivo e do exercício; analisa como as ações esportivas são reguladas/controladas por processos psíquicos, e como as ações esportivas e de exercícios regulam/controlam os processos psíquicos (Tenenbaum, Morris, Hackfort & Medeiros Filho, 2013).

A Psicologia do Esporte se desenvolveu a partir de fatos internacionais que mantem relação direta em sua história:

  • 1879 – fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental em Leipzig, na Alemanha, por Wilhelm Wundt;
  • 1896 – realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, organizados por Pierre de Coubertin, que em 1913 também organizou o Primeiro Congresso Internacional sobre a Psicologia e a Fisiologia do Esporte;
  • 1920 – primeiro laboratório de psicologia do esporte foi criado por Robert Werner Schulte em Berlim, Alemanha; 1925 – Coleman Griffith cria em Illinois, Estados Unidos, mais um laboratório de psicologia do esporte (Tenenbaum et al, 2013).

As primeiras pesquisas que se tem conhecimento sobre a relação mais específica entre a Psicologia e os Exercícios Físicos também datam do final do século XIX e começo do século XX, como a desenvolvida por Norman Triplett em 1898, na qual verificou que o desempenho de ciclistas tendia a ser melhor quando pedalavam com mais alguém (Hausenblas & Rhodes, 2016).

Ou seja, a Psicologia do Esporte e do Exercício Físico foi desenvolvida, principalmente, a partir dos conhecimentos científicos da própria Psicologia e das Ciências do Esporte, bem como da realização de eventos esportivos como os Jogos Olímpicos, que acabaram colocando o Esporte em evidência na sociedade.

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A relação de conhecimento nos domínios da ciência do esporte e da psicologia com o campo da psicologia do esporte e do exercício (Weinberg & Gould, 2017).

Os primeiros trabalhos publicados sobre alguma relação entre a Psicologia e o Esporte datam do final do século XIX e começo do século XX, mas é nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial que a disciplina teve seu maior desenvolvimento, em função da realização de pesquisas principalmente nos Estados Unidos e no Leste Europeu.

Isto se deve ao fato de que nestas regiões do planeta – que representavam o bloco capitalista e o bloco socialista, respectivamente -, viam no esporte mais um forma de propaganda de seus modelos ideológicos: o esporte visto como mais uma arma de guerra fria a ser desenvolvida.

Não à toa, os países envolvidos com as pesquisas passaram a ser os principais medalhistas olímpicos, o que aconteceu também com Cuba a partir da década de 1960, após replicar os conhecimentos previamente adquiridos pelos soviéticos (Casal, 2007).

No Brasil, a Psicologia do Esporte também se desenvolveu principalmente a partir do esporte competitivo de alto rendimento (Abdo, 2000). Embora algumas pesquisas tenham sido feitas anteriormente pela Escola de Educação Física do Exército Brasileiro, a área ganhou visibilidade apenas a partir de João Carvalhaes, que trabalhou com juízes de futebol na Federação Paulista de Futebol e com a seleção brasileira de futebol campeã na Copa do Mundo de 1958, na Suécia (Carvalho & Jacó-Vilela, 2009).

No entanto, conforme explicado anteriormente, é errado pensar que a Psicologia do Esporte preocupa-se apenas como o esporte de alto rendimento, mesmo aqui no Brasil.

A psicologia do esporte como campo de atuação

Os autores norte-americanos Weinberg e Gould (2017) afirmam que os profissionais de Psicologia do Esporte podem desempenhar um de seus três papeis básicos. São eles: o de pesquisador, que tem por objetivo aumentar o conhecimento do campo por meio de pesquisas; o de professor, para transmissão do conhecimento já obtido na área por meio da ministração cursos; e o de consultor, prestando consultoria para desenvolvimento de habilidades psicológicas com o fim de melhorar o desempenho em competições e treinamento.

Os autores também classificam a área em duas especialidades:

  • Psicologia Clínica do esporte – qualificação extensiva em psicologia para aprender a detectar e tratar indivíduos com transtornos mentais relacionados às praticas esportiva e de exercícios físicos;
  • Psicologia Educacional do Esporte – treinamento extensivo em ciências do esporte e do exercício, em educação física e em cinesiologia; são treinadores mentais que educam atletas e praticantes de exercícios sobre habilidades psicológicas e seu desenvolvimento.

O quadro a seguir mostra alguns temas com os quais a Psicologia do Esporte e do Exercício Físico trabalham em pesquisa e alguns exemplos de como isso pode ser aplicado ao contexto de ensino e de prática profissional, conforme Tenenbaum et al (2013):

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Funções da Psicologia do Esporte e do Exercício (Tenenbaum et al, 2013)

Samulski (2002) também destaca quatro campos de aplicação da Psicologia do Esporte:

  • no esporte de rendimento, campo que se preocupa com a análise e modificação dos fatores psíquicos determinantes do desempenho de atletas com a finalidade de melhorar o rendimento e otimizar o processo de recuperação;
  • no esporte escolar, em que analisa os processos de ensino e aprendizagem, pensando na forma como ocorrem os processos de educação e de socialização, através da análise, por exemplo, da relação entre professor e aluno;
  • no esporte recreativo, ou seja, se preocupa com as atividades físicas e esportivas de tempo livre de diferentes grupos;
  • em prevenção, saúde e reabilitação, em que são pesquisadas as formas como o esporte e a atividade física podem ser utilizados de maneira terapêutica, preventiva e reabilitativa em casos de limitações físicas, mentais e sociais.

Como se vê, o profissional da Psicologia do Esporte pode atuar em várias frentes, com o manejo de várias temáticas dentro da área, tornando-a em outro campo de trabalho para o profissional da Educação Física.

O profissional da psicologia do esporte

A Psicologia do Esporte atua de maneira diversificada na prática esportiva e de atividade física, de modo que requer o conhecimento de outras matérias. Da mesma forma, seu conhecimento também pode ser requerido por outras disciplinas e áreas.

Assim ocorre com o profissional de Educação Física, que ao trabalhar com uma pessoa precisa ter conhecimento não apenas da forma como o corpo (físico) age e reage ao movimento humano mas, também, de como a subjetividade do indivíduo atua nessa relação.

Não basta entender apenas de biomecânica e fisiologia do exercício, por exemplo, quando há prescrição de exercícios. Também é importante entender minimamente o que influencia a pessoa a treinar: se ela treina, o que a faz seguir à risca os exercícios propostos ou não.

No contexto esportivo, o profissional precisa pensar em, por exemplo, que tipo de variável influencia a assiduidade de um indivíduo ao treinamento ou por que na situação de competição a pessoa pode não colocar em prática aquilo faz bem durante o treino, etc.

O que quero dizer é que o corpo humano não se põe em movimento sozinho. Ele precisa de processos neurológicos, mentais e cognitivos que sustentem o movimento, e quem trabalha com essa demanda deve conhecer ao menos o básico dessa relação.

Você, como profissional de Educação Física, pode não trabalhar diretamente com a Psicologia do Esporte, mas ela certamente pode lhe ajudar a entender a pessoa de maneira mais integral, mesmo que indiretamente.

Não se deixe “assustar” pela palavra psicologia, até mesmo porque a área da Psicologia do Esporte é formada por diferentes profissionais, não só psicólogos.

Boa parte dos profissionais da área são formados em Educação Física, isso porque enquanto os cursos de graduação em Psicologia ainda engatinham quanto à disponibilização da disciplina de Psicologia do Esporte, os cursos de Educação Física já o fazem desde as décadas de 1980 e 1990.

Conforme Becker Jr. (2000), que em relato sobre a experiência de criar o primeiro curso de pós-graduação da área na América do Sul, em 1995, afirmou ser esta uma das razões pelas quais a maior parte dos profissionais interessados nas primeiras turmas do curso advinham da graduação em Educação Física.

Outro fato utilizado para exemplificar a importância que é dada à Psicologia do Esporte pela Educação Física, é que na Universidade de São Paulo (USP), os cursos de metrado e doutorado com linha de pesquisa na área são oferecidos pela pós-graduação em Ciências, da Escola de Educação Física e Esporte, e não pelo Instituto de Psicologia.

Conclusão

Portanto, no geral, a prática da Psicologia do Esporte também pode ser exercida pelo profissional de Educação Física, sendo privativa do psicólogo apenas a Psicologia Clínica do Esporte. Ao trabalhar com a Educação Física Escolar você pode utilizar conhecimentos da Psicologia do Esporte sobre processo de aprendizagem e desenvolvimento motor a partir da atividade física ou ao trabalhar como professor em academia de ginástica, ou mesmo como personal trainer, pode considerar os estudos sobre adesão e aderência ao exercício físico.

Há bastante espaço para vocês, profissionais da Educação Física, junto à Psicologia do Esporte, e esta participação certamente só beneficiará a própria área e a todos os envolvidos com ela, sejam os profissionais, sejam os alunos/clientes.

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Referências

ABDO, E. Psicologia do Esporte no Brasil. In: RUBIO, K. (org.) Encontros e desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. p. 15-19.

BECKER JR, B. Psicologia de Esporte: rumos e necessidades. In: RUBIO, K. (org.) Encontros e desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

CARVALHO, C. A.; JACÓ-VILELA, A. M. Psicologia do esporte no Brasil em dois tempos: uma história contada e uma história a ser contada. 2009. Disponível em: http://abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/206.%20psicologia%20do%20esporte%20no%20brasil%20em%20dois%20tempos.pdf. Acesso em: 18/05/2018.

CASAL, H. M. V. Fatos e reflexões sobre a história da Psicologia do Esporte. IN: BRANDÃO, M. R. F.; MACHADO, A. A. Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício, v. 1. São Paulo: Atheneu, 2007.

HAUSENBLAS, H.; RHODES, R. E. Exercise Psychology: physical activity and sedentary behavior. Jones & Bartlett Publishers, 2016.

RUBIO, K. Psicologia do esporte: interfaces, pesquisa e intervenção. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

SAMULSKI, D. M. Psicologia do Esporte. São Paulo: Editora Manole, 2002.

TENENBAUM, G.; MORRIS, T.; HACKFORT, D.; MEDEIROS FILHO, E. Sport and Exercise Psychology. In: TALBOT, M.; HAAG, H.; KESKINEN, K. Directory of Sport Science. 6ª ed. Human Kinetics, 2013.

WEINBERG, R. S; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2017.

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